Acaba de ser publicado em Portugal
mais um romance do grande escritor José Rentes de Carvalho (n. 1930), português
radicado na Holanda desde 1956 e que só nos últimos anos tem sido descoberto em
Portugal seu país natal, graças à Editora Quetzal. O título do novo romance chama-se
“Mentiras e Diamantes”, tem algo de
romance policial, e é passado no Algarve.
Rentes de Carvalho insere-se na tradição
do Realismo literário, que tem cultores na nossa Ficção, começando em Eça de Queirós
e Júlio Diniz (no século XIX) e que se prolongou até aos nossos tempos, tendo
no século XX incluído nomes como Ferreira de Castro, Rodrigues Migueis, Aquilino
Ribeiro, Miguel Torga e os neo-realistas de 1940-1960, como Fernando
Namora, Alves Redol, Carlos de Oliveira, Soeiro Pereira Gomes e Manuel da
Fonseca (embora estes cultivassem um realismo, a meu ver, com fortes pressupostos
politico-ideológicos, que, em certos casos, tornou demasiado datadas as suas
obras).
Nos livros de Rentes de Carvalho (tais
como “Ernestina”, “La Coca”, “A amante holandesa”, “O rebate”), encontramos um
prazer de uma história bem contada, com ironia e elegância de linguagem, que
nos fazem pensar num Eça de Queirós dos nossos tempos que se tivesse dedicado a
retratar figuras e casos do Portugal profundo, rural, do interior. Porque Rentes,
que vive há décadas na “avançada” e cosmopolita Holanda e foi por lá professor de
uma universidade, escolhe, paradoxalmente, para cenário dos seus romances, as regiões
rurais do Norte de Portugal, onde mostra o confronto tradição/modernidade e a sobrevivência
de figuras e tipos humanos que pensaríamos desaparecidos com a entrada do nosso
país na então CEE- Comunidade Económica Europeia (1986). Estou pois curioso em ler este romance, que, ao que diz a publicidade, é passado no sul
de Portugal (o Algarve do turismo), o que é uma novidade na obra do autor. Mas também espero (re)encontrar
as personagens castiças, “telúricas”, dos romances anteriores!
Rentes de Carvalho é, de certa forma, um
Eça que escreve sobre o mundo de Camilo. Leiam-no !
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