Passou despercebido, na semana passada,
um triste acontecimento, do ponto de vista quer da História cultural da Europa,
quer da vida da Igreja católica: a morte da ultima beguina, irmã Marcella Pattyn,
com a idade de 92 anos, em Coutrai, na
Bélgica.
O movimento das Beguinas começou no século
XII, no Norte da Europa, na Flandres (actual Bélgica) e espalhou-se em seguida
pela Alemanha e pela França. Eram mulheres celibatárias ou viúvas que, sem serem
freiras propriamente ditas (não pronunciavam votos monásticos nem viviam em
clausura), escolhiam viver perto de hospitais ou asilos, ajudando os pobres e
os doentes. Viviam do seu trabalho (eram tecelãs, sobretudo), rezavam em comum,
e muitas desenvolveram uma frutuosa actividade intelectual, na Poesia e na Espiritualidade
(contaram entre elas, nomes como Hadevich de Anvers e Matilde de Magdeburgo, duas das maiores místicas medievais). Viviam
em pequenas casas agrupadas junto de uma capela ou igreja; o conjunto dessas
habitações chamava-se um “béguinage” (chegaram
a existir 80 “bairros” deste género na Bélgica).O movimento teve a dada altura problemas com a hierarquia da Igreja, devido a infiltrações de ideia heréticas, dos chamados Irmãos do Livre-Espirito (que defendiam um radical anarquismo e panteísmo, com rejeição dos sacramentos e do culto eclesial); mas com o tempo, vários Papas, sobretudo João XXI no século XIV, trataram de as integrar na vida da Igreja, dando-lhes como orientadores sacerdotes das Ordens mendicantes (Franciscanos e Dominicanos). Porem, todas as tentativas de as converter quer numa espécie de “ordem terceira”, ou em típicas monjas de clausura fracassaram. Permaneceram ao longo dos seculos como leigas consagradas, vivendo no mundo mas com um estilo próprio, sem madres superioras e regras estritas. Foi esta «independência» (alem das referidas “infiltrações” de ideias heréticas) que a inicio provocou a desconfiança da hierarquia da Igreja, pois no mundo medieval só havia dois papeis aceitáveis para a mulher: ou esposa (no mundo) ou freira (na clausura dos mosteiros). Assim pode-se dizer que as Beguinas foram «revolucionárias» para a época (à sua maneira, claro está...).
Quanto à origem do termo “Béguine” (a palavra francesa é mais conhecida), há varias teses em confronto: uns defendem que deriva de Santa Begge (irmã de Santa Gertrudes, século VII) ,enquanto outros afirmam que deriva do baixo-alemão «beggen» - que significa mendigar (ao inicio, muitas viviam de esmolas).
A «Béguinage» de Bruge, Bélgica.
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